Quaresma

by sacarosa

Durante o semestre passado, a propósito de um trabalho, dei com um artigo do Brett McCracken na Relevant, e gostei muito de o ler. Daí até ao seu blog foi um instante, e lê-lo continua a ser, para mim, uma delícia. Já quase findava Fevereiro quando ele escreveu estes “Pedidos de oração da quaresma” com os quais me identifiquei sobremaneira; senti que, se mestria tivesse, eu própria os poderia ter escrito, pois aqueles pedidos também têm sido os meus. Passo a copiá-los e arrisco-me a traduzi-los, esperando que possa servir de reflexão para este tempo em que lembramos (com mais intensidade) a Paixão e o Amor de Cristo.

Lenten Prayer Requests

Lord, bring us to our knees. Quiet our hearts.

Away from the onslaught of screens and tweets and texts, focus our eyes on you.

Abide in our perceptions, as we taste and see and hear that you are good.

In the stillness of dusk, on ever lengthening days; serenaded by car horns, engines, buzzing iPhones, birds, distant planes, and the mystical fugues of February vespers… speak to us oh God.

Remove us from ourselves. Help us to dismiss our notions of grandeur and relinquish our litany of self-appointed rights: that we deserve jobs, freedom and low gas prices; that our social updates deserve to be paid attention to; that the world revolves around us; that we can do with our bodies what we fancy; that the chief end of life is our own individual happiness.

Remove us from ourselves Lord, and draw us closer to You. Bring us to a distance–a desert, a depth, a hunger, Sehnsucht–so that what we see of ourselves isn’t glamour and greatness, but only your grace. Only your righteousness.

Only you, in fact, for it is no longer I who live, but Christ who lives in me.

Ashes to ashes, let us deny ourselves. Let us give ourselves away rather than grab what’s ours. Let us be crucified with Christ. Let us seek the cinders, Oh God, to be crushed as you were, refined to a new fragrance.

In the darkness, in the desert, in the endless debates, let us look to resurrection. The morning is coming.

Into debt we further go. Under avalanches of paperwork, tasks, and to-dos we further sink. Against our arthritic, cancerous, flaking-away bodies we further fight. The nations wage war and the blizzards take their toll. The groundhog saw his shadow.

But Easter looms.

(a tradução arriscada)

“Pedidos de oração da Quaresma

Senhor, faz-nos ajoelhar. Aquieta os nossos corações.

Longe do ataque ofensivo dos ecrãs e sms’s e tweets, foca os nossos olhos em Ti.

Permanece nas nossas percepções, enquanto saboreamos e vemos e ouvimos que Tu és bom.

Na quietude do crepúsculo, nos dias cada vez mais alongados; com serenatas feitas por buzinas, motores, iPhones que zumbem, pássaros, aviões distantes, e as fugas místicas das vésperas de Fevereiro…fala connosco, ó Deus.

Remove-nos de nós mesmos. Ajuda-nos a dispensar as nossas noções de grandeza e abandonar a nossa ladainha de direitos auto-designados: que merecemos emprego, liberdade, e preços da gasolina baixos, que as nossas actualizações das redes sociais merecem atenção; que o mundo gira à nossa volta, que podemos fazer o que quisermos com os nossos corpos; que o propósito principal da vida é a nossa própria felicidade.

Remove-nos de nós mesmos Senhor, e achega-nos a Ti. Leva-nos para um lugar distante – um deserto, uma profundeza, uma fome, Sehnsucht, para que não vejamos em nós glamour e grandeza, mas somente a Tua graça. Apenas a Tua justiça.

Apenas a Ti, de facto, pois “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.

Das cinzas para as cinzas, neguemo-nos a nós mesmos. Entreguemo-nos, em vez de agarrar o que é nosso. Crucifiquemo-nos com Cristo. Busquemos as cinzas, ó Deus, para sermos esmagados como Tu foste, refinados para uma nova fragrância.

Na escuridão, no deserto, nos debates intermináveis , olhemos para a ressurreição. A manhã está a chegar.

Estamos cada vez mais endividados. Afundamo-nos cada vez mais em avalanches de papelada, tarefas e listas de afazeres. Lutamos cada vez mais contra os nossos corpos artríticos, cancerosos, descamados. A guerra dos salários das nações e os nevões cobram a sua portagem. A marmota viu a sua sombra.

Mas a Páscoa aproxima-se.”